quinta-feira, 15 de abril de 2010

Analfabetismo na Amazônia brasileira

Evandro Brandão Barbosa

       A indagação inicial deveria ser: para onde vai o analfabetismo amazônico? Mas não deve ser ensaiada, porque a vontade política só é previsível a partir da organização dos indivíduos que integram a sociedade. E como essa organização ainda não é real em território amazônico, então é preciso compreender as origens do analfabetismo na Amazônia.

       Pierre Furter - escritor francês - afirma no seu livro Educação Permanente e Desenvolvimento Cultural, que a maioria da população mundial é analfabeta. Para que não haja susto deve-se lembrar da existência de um grande número de asiáticos, africanos, europeus e americanos analfabetos, e, entre estes, os amazônicos. O conceito de analfabeto em questão refere-se àquele que não sabe ler e nem escrever: o analfabeto total.

       O analfabetismo tem plagiado, na Amazônia, o fluir dos rios amazônicos ao longo dos séculos e resistido às campanhas educacionais que ousaram tentar erradicá-lo. O analfabetismo permanece na Amazônia com pujança significativa ainda no início do século XXI. Seria o analfabetismo amazônico atual uma conseqüência apenas da falta de vontade política?

       Já não tenho mais idade para valorizar os achismos. Responder à pergunta anterior é antes de tudo estudar e pesquisar sobre o analfabetismo.  Como fiz no ano de 2004, quando pesquisei as causas do analfabetismo no município de Fonte Boa, no Estado do Amazonas. Esse estudo corresponde a uma parcela muito pequena do território amazônico, mas é um começo.

     Os índios que habitavam a Amazônia no início do século XVI possuíam sociedades organizadas e o número de línguas faladas entre os povos indígenas era superior a sete centenas. Não havia a escrita entre os nativos, a comunicação era oral. E através dessa oralidade, os índios mantinham culturas milenares. A educação ocorria a qualquer hora e em qualquer lugar; educavam-se através do exemplo - no ser e no fazer. Aqueles índios não praticavam a demagogia. Compreendiam, explicavam e utilizavam a natureza amazônica com sabedoria, não precisavam da leitura ou da escrita. E possuíam elevada qualidade de vida na época.

       A chegada dos europeus portadores da língua portuguesa, na Amazônia, não foi pacífica, pois se imaginavam mais inteligentes que os índios; e acreditavam que os nativos precisavam da educação européia. Como os estrangeiros poderiam comunicar-se com os povos indígenas se, entre as próprias nações indígenas havia tão grande variedade de línguas, dificultando até mesmo a intercomunicação?

       A idéia inicial de analfabetismo surge aí, pois os portugueses traziam uma cultura escrita e língua única para uma Amazônia rica em centenas de línguas orais. Logo, o conceito de analfabetismo era estranho à consciência indígena, porque os índios não se reconheciam analfabetos. O analfabetismo foi trazido pelos portugueses e permanece até os dias atuais como um problema político e socioeconômico na Região.

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