quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Amazônia dos cearenses

Evandro Brandão Barbosa

       Amazônia: formação social e cultural, obra escrita por Samuel Isaac Benchimol, revela as relações sócio-culturais, políticas e econômicas entre os cearenses-nordestinos e a Amazônia. No prefácio do livro, Benchimol escreveu, “a feitura deste livro – o centésimo trabalho da minha carreira – é fruto de um longo processo de maturação: foi elaborado, escrito, emendado, reescrito, compilado e mudado ao longo de todo esse incansável percurso. Começou com o Cearense na Amazônia – um inquérito antropogeográfico sobre um tipo de imigrante, que escrevi para o X Congresso Brasileiro de Geografia, em 1944. Em seguida, veio a minha tese de Mestrado em Sociologia, na Miami University – Manaus: o Crescimento de uma Cidade no Vale Amazônico, em 1947, quando fiz uma interpretação da ecologia urbana e social. Duas décadas depois, ao escrever a Estrutura Geo-Social e Econômica da Amazônia, em dois volumes, voltei ao tema para dar ênfase e destaque a um capítulo de 37 páginas sobre o contexto cultural dos diferentes povos, etnias e culturas que formaram e diversificaram a vida social e econômica da Amazônia...”.

       Fiz questão de apresentar o recorte do prefácio, somente para fundamentar a idéia de que é perfeitamente compreensível a interação atual entre muitos amazônidas e as principais cidades do Nordeste, de um modo geral, e, particularmente da cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará. Os nordestinos que migraram para a Amazônia eram chamados de cearenses.

       De acordo com Benchimol, foram esses imigrantes, aproximadamente 500.000 nordestinos, de 1827 a 1960, que “vieram fazer a Amazônia, representando assim o maior movimento humano das migrações internas da história brasileira, superado somente pela migração pau-de-arara para São Paulo”. Expulsos do Nordeste devido às secas do século XIX, os migrantes chegavam à Amazônia para serem flagelados, retirantes, brabos, comboieiros, mateiros e seringueiros, numa primeira fase. Na sua labuta, os cearenses-nordestinos também foram gerentes de depósito, regatões, seringalistas coronéis de barranco, chefes políticos, prefeitos, deputados e até assumiram o governo de alguns estados amazônicos; muitas vezes esses cargos políticos foram conseguidos pela segunda e terceira geração de seus filhos e netos; por isso, a Amazônia está impregnada originalmente de cearenses-nordestinos.

       Segundo Benchimol, após a decadência dos negócios da borracha e da juticultura nos beiradões amazônicos, muitos imigrantes nordestinos retornaram às suas terras de origem, embora uma boa parte tenha ficado em Belém, Manaus, Macapá, São Luís, Rio Branco e Porto Velho.

       Sebastião Vila Nova, meu professor de Sociologia na Universidade Católica de Pernambuco, escreveu que é com razão, que Gilberto Freyre afirmou a respeito de Samuel Benchimol, indagando: ´quem mais singularmente plural sem que sua pluralidade signifique diletantismo?´.

       Não há como estudar a Amazônia e os seus povos sem conhecer a obra de Samuel Benchimol.

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